Importância da amamentação na construção da imunidade neonatal
- SAIBA+
- 1 de jun. de 2020
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O LEITE MATERNO
O leite materno é a melhor forma de nutrição para bebês, principalmente nos dois primeiros anos de vida. O aleitamento materno exclusivo é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) pelos 6 primeiros meses, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que essa forma de alimentação continue até os dois anos de vida. A interrupção precoce do aleitamento materno é associada a um aumento de risco na morbidade e mortalidade infantil, aumento de condições crônicas como diabetes e obesidade e no risco de morte por doenças infecciosas nos dois primeiros anos de vida.
O leite humano é repleto de nutrientes em quantidades ajustadas às necessidades nutricionais e à capacidade digestiva e metabólica dos lactentes, e possui também fatores protetores que garantem sua saúde, seu crescimento e seu desenvolvimento. Ele possui agentes capazes de fornecer proteção contra infecções e também contra alergias. Esses agentes são células de defesa, liberados do organismo da mãe, que têm a habilidade de atravessar o intestino da criança, entrando na sua corrente sanguínea e conferindo imunidade contra diversos patógenos.
A produção de leite materno muda de acordo com a necessidade do bebê, alterando a sua composição, variando a concentração de lipídios e proteínas e concentrando a gordura no final da mamada, de modo que cada bebê possui um alimento personalizado para as suas necessidades individuais. Nos primeiros 3 a 5 dias, o leite materno recebe o nome de colostro. Ele possui maior espessura e consistência pegajosa, devido à sua alta concentração de vitaminas e fatores protetores, e busca proteger a criança, conferindo imunidade a ela.Em seguida o leite passa por uma fase de transição, até se tornar o leite maduro, secretado a partir do 10º dia após o parto, com maior teor lipídico, para garantir a saciedade do lactente.
A AMAMENTAÇÃO E A IMUNIDADE
O leite materno é fundamental para o desenvolvimento do sistema imune da criança, e existem no leite materno inúmeros fatores protetores contra infecções, que são divididos entre fatores específicos e não específicos.
Entre os fatores específicos estão as imunoglobulinas (IgA, IgG e IgM), anticorpos que são produzidos no organismo materno, secretados nas glândulas mamárias para serem transmitidos através do leite para os recém nascidos. A IgA, especialmente sintetizada na própria glândula mamária, atravessa o trato gastrointestinal do bebê e se deposita no seu intestino, revestindo a sua mucosa intestinal. Esses anticorpos trazem informações coletadas pelo organismo materno quanto a infecções do trato respiratório e gastrointestinal, e “ensinam” às células do lactente como combater essas doenças, fortificando o sistema imune desses indivíduos e tornando-os menos susceptíveis a esses males.
Entre os fatores não específicos, os mais importantes são o fator bífido, a lisozima, a lactoferina e a lactoperoxidase. O fator bífido atua junto com a lactose, e é fundamental para promover o crescimento de bactérias “boas”, que irão compor a microbiota intestinal da criança, impedindo que microorganismos patogênicos se depositem ali. As lisozimas atuam diretamente sobre bactérias exógenas gram positivas e negativas, causando danos nas suas paredes celulares e impedindo a sua proliferação. A lactoferrina impede que patógenos consigam ingerir o ferro necessário para o seu funcionamento, impedindo a sua sobrevivência no organismo da criança. A lactoperoxidase, por sua vez, atua diretamente contra a bactéria Streptococcus, que pode veicular uma série de doenças.
Existem ainda uma série de outros fatores de proteção provenientes do leite materno, que contém também células de defesa como neutrófilos, macrófagos e linfócitos, que são responsáveis por proteger os recém nascidos nas primeiras semanas de vida, fato que demonstra a importância dessa forma de nutrição.
CONCLUSÃO
O leite materno é uma forma confiável, segura e extemamente benéfica de nutrição para o bebê, e tem um papel significativo na sua imunidade. O aleitamento representa uma integração imunológica entre mãe e filho, uma vez que uma criança que não recebe leite materno tem apenas os próprios anticorpos (presentes em níveis baixos) para auxiliar o seu sistema imune a combater doenças. Por isso, é necessário que os profissionais da saúde conscientizem gestantes quanto à sua importância e aos largos benefícios a curto e a longo prazo para a criança.
Referências.
1. VITOLO, M.R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008.
2. HORTA, Bruno L.; VICTORIA, Cesar G. Long-term effects of breastfeeding: a systematic review. World Health Organization. 2013.
3. SILVA, Giselia A.P.; COSTA, Karla A.; GIUGLIANI, Elsa R.J.. Infant feeding: beyond the nutritional aspects. Jornal de Pediatria (Rio J). 2016. 92 (3suppl 1): 52-57. Disponível em: <https://reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S0021755716000474?token=CBA96D4436C077C4715F15D99B288EC5AFB49E8FB72F6019087E2EF04F79819D5FE0D284A7B2A0540741FDD1A52347E4> Acesso em: 24/05/2020.

Acadêmica do 7º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
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