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COVID-19: O vírus e a resposta imune

  • Foto do escritor: SAIBA+
    SAIBA+
  • 24 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

INTRODUÇÃO

O ano de 2020 está sendo marcado pela pandemia do novo Coronavírus, cujo nome oficial é SARS-COV2, causador da COVID-19. É sabido pelo público geral que nessa doença ocorre um acometimento de órgãos, sobretudo pulmonar, com padrão sintomático e imaginológico similar ao de uma pneumonia viral. Entretanto, pouco se sabe sobre o mecanismo preciso pelo qual o vírus interage com o sistema imune do indivíduo para causar o acometimento. Com isso, esse texto objetiva esclarecer o que se sabe, de um modo geral, sobre essa interação.


INFECÇÃO PELO SARS-COV-2

Para entender a resposta imune ao SARS-COV2, primeiramente, devemos entender a patogênese da COVID-19. O vírus adentra o organismo via de regra através de partículas em suspensão, ou aerosol, e invade o trato respiratório através do contato direto com os alvéolos pulmonares. Uma vez que está próximo às células, o vírus se ancora ao receptor ECA2 e, através da enzima furina, penetra a célula, usando do maquinário celular para replicar seu RNA, até que várias cópias sejam produzidas e a célula morra. Assim, as cópias repetem o processo, o que desencadeia uma resposta imune inate do organismo, sobretudo quando o trato respiratório é mais profundamente atingido. É a partir desse momento de acometimento mais profundo, que a doença passa a se manifestar clinicamente, podendo haver um fenômeno chamado tempestade de citocinas, onde as próprias células imunes inatas do paciente produzem uma quantidade excessiva de proteínas pró-inflamatórias, que podem desencadear danos teciduais severos.


RESPOSTA IMUNE HUMANA

A resposta imune humana pode ser dividida em 3 subgrupos:

A inata, que é rápida, inespecífica, determinada geneticamente, e comandada por células como a NK, macrófagos teciduais, basófilos e eosinófilos;

a adaptativa, que é lenta, celular ou humoral, específica e comandada por linfócitos; e a passiva, que é adquirida por medicamentos ou através da mãe. Entre essas 3, a adaptativa humoral, a resposta responsável pela produção de anticorpos, que geram imunidade duradoura.

No caso da COVID-19, a principal resposta envolvida em complicações relacionadas à doença é a inata. Isso ocorre pois, no momento em que o sistema inato de alguns indivíduos susceptíveis detecta o vírus, ocorre uma liberação exacerbada de citocinas como IL-1 alfa e beta, IFN-alfa, IL-17 e IL-12. Essas citocinas, por sua vez, parecem estar associadas a um complexo proteico chamado inflamossomo, responsável por uma resposta imune mais exacerbada.


MECANISMOS IMUNOLÓGICOS ENVOLVIDOS

Outro fator envolvido, nesse caso associado também à resposta adaptativa, é um padrão de resposta chamado TH-1. Ela se configura como uma subdivisão da resposta celular e é principalmente antiviral e determinada por fatores tanto genéticos quanto por exposição a certos antígenos precocemente na vida. Esse padrão de resposta, no entanto, está associado a um pior prognóstico na COVID-19, gerando uma reação imunológica mais exacerbada, tendo maior chance de gerar uma tempestade de citocinas.


Por fim, outro elemento que ajuda a compor a intrincada relação do SARS-COV-2 com o sistema imune humano é a interação deste com o complexo MHC. Esse complexo, cujas diferentes variações são geneticamente determinadas, é responsável por apresentar antígenos, sendo dividido em MHC-1, presente em todas as células humanas, responsável por ativar a resposta do LT-CD8 e o MHC-2, presente apenas nas células apresentadoras de antígenos (APCs), que ativa os LT-CD4. Sobre o MHC, foi demonstrado em um estudo dinamarquês que diferentes variações do complexo apresentam maior ou menor afinidade pelo epítopo do vírus, o que prediz a intensidade da resposta imune. Assim, pode-se inferir que um dos motivos de a resposta ao vírus ser tão diferente de indivíduo para indivíduo possa estar relacionado a esse complexo.


Referências.

1. Chowdhury MA, Hossain N, Kashem MA, Shahid MA, Alam A. Immune response in COVID-19: A review [published online ahead of print, 2020 Jul 14]. J Infect Public Health. 2020;S1876-0341(20)30567-0. doi:10.1016/j.jiph.2020.07.001

2. Lucas, C., Wong, P., Klein, J. et al. Longitudinal analyses reveal immunological misfiring in severe COVID-19. Nature 584, 463–469 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2588-y




Mateus de Souza Silva Pereira.

Acadêmico do 5º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

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