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Hereditariedade de traços imunes

  • Foto do escritor: SAIBA+
    SAIBA+
  • 30 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

O sistema imune é formado por um complexo de células e moléculas que agem em uma resposta coordenada e coletiva contra a introdução no organismo de substâncias consideradas estranhas. Classicamente dividido entre a imunidade inata e adquirida, esse sistema é determinado pela expressão de diversos genes relacionados a proteínas como: receptores de membrana, moléculas solúveis, proteínas séricas e citoplasmáticas, além de uma série de outros constituintes estruturais e funcionais que regulam a sua atuação. Nesse sentido, a herança genética envolvida na expressão de alguns genes, se mostra de grande importância para o entendimento da hereditariedade de certos traços imunes.


SUSCEPTIBILIDADE A DOENÇAS AUTOIMUNES

Esses fatores são melhores explicitados quando se analisa a influência genética na ocorrência de doenças auto imunes (DA’s). A susceptibilidade para o desenvolvimento de doenças autoimunes é complexa e envolve uma interação de fatores extrínsecos e intrínsecos. Fatores ambientais como alimentação, exposição a toxinas e microrganismos interagem com condições determinadas geneticamente para que ocorra o desenvolvimento de uma DA em certos indivíduos susceptíveis. Essa susceptibilidade pode ser quantificada pelo cálculo da razão de risco genético (DS), que é obtida ao se comparar a prevalência de certas condições em parentes de primeiro grau com a sua prevalência na população em geral. Um DS maior que 5 é considerado como um indicativo de contribuição significativa de fatores hereditários na patogênese da doença.


EXEMPLIFICAÇÃO DE ALTERAÇÕES GENÉTICAS

Mais de 85 genes já foram relacionados com doenças autoimunes, e virtualmente qualquer via molecular pode conter genes que contribuem de alguma forma para a patogênese das da’s. A deficiência de componentes do sistema do complemento é um exemplo de alelos relacionados a grande susceptibilidade de DA’s, deficiência em c2, c4a e c1q tem uma alta relação com a susceptibilidade para Lúpus Eritematoso Sistêmico (SLE). Entretanto, vale ressaltar que a expressão dessa deficiência requer expressão homozigótica do gene defeituoso o que é extremamente raro, e não tem grande influência sobre incidência global de SLE.

Outro ponto relevante é a expressão de alguns receptores inatos, como o TRL e o NRL. Foi relatado que alguns polimorfismos na expressão dos TRL 7 e 8, que reconhecem RNA’s de fita única, também estão associados com a susceptibilidade a SLE principalmente em homens, uma vez que está associado à uma expressão recessiva de um gene localizado no cromossomo X.

Além disso, variações no NOD2, um receptor citoplasmático que detecta peptidioglicanos de paredes bacterianas, está fortemente associado à incidência de doença de Crohn, no qual duas cópias do alelo de risco podem aumentar o risco de se desenvolver essa patologia em até 40%. Polimorfismos da expressão do MHC classe 1 e 2 são os mais fortes e mais consistentes alelos relacionados à susceptibilidade de doenças autoimunes. A região do HLA é altamente polimórfica e essas variações se relacionam com virtualmente todas as DA’s, sendo que até 30% da influência hereditária nas patologias autoimunes estão relacionadas ao HLA. Os loci DQ e DA da classe 2 demonstram forte associação com um grande número de DA’s, a hipótese mais aceita é a de que as suas propriedades de ligação à peptídeos modulam o reconhecimento de antígenos das células T, levando a uma maior probabilidade de falhas na tolerância dessas células à alguns autoantígenos. A vasta maioria dos alelos de risco associados a DA’S possuem baixos ou moderados efeitos na susceptibilidade do indivíduo. Se analisados isoladamente, apenas alguns alelos apresentam DS’s maiores que 1.8, entretanto, é provável que múltiplos alelos contribuam para a patogênese das doenças, de forma aditiva e interativa em diversas vias moleculares, resultando em DS extremamente significativo para algumas doenças. Como por exemplo um DS que pode chegar a 29 na SLE, e até 35 na doença de Crhon, mostrando altos níveis de influência da hereditariedade.


CONCLUSÃO

Nesse sentido, pode-se concluir que o ainda há muito o que elucidar sobre a análise genética de sistemas complexos como as o sistema imune e as doenças autoimunes. Sendo que essa elucidação representa um grande passo para o esforço de se entender os fatores individuais que atuam na patogênese e na fisiopatologia de cada caso específico, torando a medicina mais completa e eficiente.



Referências.

1. Rai E, Wakeland EK. Genetic predisposition to autoimmunity--what have we learned?. Semin Immunol. 2011;23(2):67-83. doi:10.1016/j.smim.2011.01.015

2. Raychaudhuri S. Recent advances in the genetics of rheumatoid arthritis. Curr Opin Rheumatol 2010;22:109–18

3. Handunnetthi L, Ramagopalan SV, Ebers GC, Knight JC. Regulation of major histocompatibility complex class II gene expression, genetic variation and disease. Genes Immun 2010;11:99–112.




  1. Lucas de Carvalho Casséte


  2. Acadêmico do 3º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

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