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COVID-19: Vacinas

  • Foto do escritor: SAIBA+
    SAIBA+
  • 25 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Junto à pandemia pelo coronavírus, foi dada a largada à corrida para fabricação de uma vacina segura, eficaz e reprodutível em larga escala contra o vírus. Para alguns pode parecer uma tarefa rápida, mas a verdade é que a fabricação de uma vacina envolve uma sequência teórico-prática árdua e burocrática. São necessários estudos pré clínicos (experimentais em animais – camundongos e macacos) e estudos clínicos (experimentais em humanos). Usualmente, os testes clínicos envolvem três etapas, mas o processo pode ser acelerado por incentivo monetário governamental ou pela combinação dessas fases:

  • Fase I: A vacina é testada em um número pequeno de pessoas com o propósito de se investigar a segurança, a dosagem e a devida estimulação do sistema imune.

  • Fase II: A vacina é testada em milhares de pessoas separadas por diferenças etárias, condições de saúde etc. Objetiva-se estudar a segurança e sensibilização imune diante destas variações.

  • Fase III: A vacina é testada em milhares/milhões de pessoas separadas em grupo controle e grupo teste. Pretende-se com isso compará-los e determinar a imunoproteção (eficácia) conferida pela vacina.

Feitas estas fases, as pesquisas são revistas por órgãos fiscalizadores sanitários de cada país, aprovando ou não a comercialização da vacina em seu território. A entidade fiscalizadora dos Estados Unidos (F.D.A.), em junho de 2020, anunciou que para que a vacina contra o coronavírus seja considerada efetiva ela deve conferir proteção a pelo menos 50% dos vacinados.


VACINA IDEAL CONTRA O CORONAVÍRUS DEVE : 
● ser efetiva após uma ou duas doses 
● reduzir a transmissibilidade viral por contato 
● conferir proteção por pelo menos 6 meses 
● conferir proteção para população de risco – idosos, adultos e pessoas com comorbidades, incluindo imunossuprimidos


PANORAMA GERAL

Segundo a OMS, cerca de 212 vacinas contra o coronavírus chegaram a fase pré clínica ao longo deste último ano, porém 164 delas continuam na fase pré clínica e apenas 48 chegam a fase clínica – sendo que destas 21 encontram-se na fase I (teste de segurança e dosagem); 13 na fase I/II; 3 na fase II (expansão do teste de segurança) e 11 na fase III (teste da eficácia em larga escala). Infelizmente, nenhuma delas chegou a ser aprovada pela ANVISA ou comercializada nacionalmente.




Haja vista a contextualização da disputa entre as vacinas candidatas, o presente texto irá se ater àquelas que até o mês de novembro apresentaram-se seguras e eficazes na a fase mais avançada de pesquisa - estudo clínico fase III (ver tabela I)



PRINCÍPIOS BÁSICOS

Mas, antes de entrarmos no mecanismo de cada vacina, é preciso entender um pouco da estrutura viral. Indo direto ao ponto, todo vírus possui uma sequência de virulência, ou seja, que traduz proteínas relacionadas à capacidade de infectar o organismo. No caso, a endocitose do coronavírus é mediada pela ligação da glicoproteína spike (S) do SARS-CoV-2 com a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2). E, essa reação é facilitada pela serina protease TMPRSS2, a qual cliva a proteína S e possibilita, desta forma, a entrada do vírus nas células. Em outras palavras: a glicoproteína S e a TMPRSS2 são alvos terapêuticos importantes.

Estudo recente, publicado na Science Direct, demonstrou que anticorpos contra glicoproteína S podem oferecer proteção contra o SARS-CoV-2. Ou seja, anticorpos direcionados a glicoproteína S são tópicos fundamentais quando o assunto é vacina contra o coronavírus.


VACINA VIRAL VETORIAL

Trata-se de uma vacina de vírus vivo envolvendo vírus recombinante. Traduzindo, um vetor viral como sarampo ou adenovírus é geneticamente modificado para produzir proteínas do coronavírus. Porém, essas proteínas virais virulentas estão alteradas, isto é, o vírus está enfraquecido e não pode mais causar doenças. Existem dois tipos: aqueles que ainda podem se replicar dentro das células e aqueles que não podem porque os genes principais foram desativados.


VACINA INATIVADA

Nesse caso, os vírus são inativados (morto) em laboratório, mantendo, contudo, a sua imunogenicidade. Para isso, isola-se o patógeno e faz a sua cultura, posteriormente purifica-se esse patógeno e, por último, faz sua inativação utilizando formaldeído, calor ou luz ultravioleta. Logo, injeta-se no paciente o patógeno já morto. Ele continua a induzir a produção anticorpos específicos, mas não causa doença.



VACINA DE RNA

Técnica moderna, pioneira e até então nunca aprovada pela ANVISA. O primeiro passo é a construção de um RNA mensageiro direcionado para a síntese da proteína S, o qual é então encapsulado em uma nanopartícula lipídica (LNP). A membrana da "vesícula" é capaz de fundir-se a membrana celular da célula hospedeira. Uma vez dentro da célula o material genético é transcrito, levando a produção de proteínas virais capazes de estimular o sistema imune.


SUBUNIDADES DE PROTEÍNA

Tratam-se de vacinas que contém proteínas, mas nenhum material genético. Algumas possuem toda a proteína e outras apenas alguns fragmentos. A maioria está focada na proteína viral spike ou em uma região denominada domínio de ligação ao receptor. Essas vacinas necessitam de adjuvantes, moléculas que estimulam o sistema imune e são adicionadas às vacinas.




A TÃO FALADA CORONAVAC...

A companhia Chinesa Sinovac Biotec está testando uma vacina inativada chamada CoronaVac. Os estudos de fase I e II demonstraram segurança e imunogenicidade favoráveis com o esquema de duas doses da vacina. O esquema de vacinação estudado é duas doses com intervalo entre elas de 14 dias. Hoje, ela encontra-se em fase III e a vacina será testada aqui no Brasil. Firmada parceria com o Instituto Butantan, 9 mil dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná e Distrito Federal serão vacinadas. A Snovac afirma ter capacidade produtiva de 100 milhões de doses anualmente.

Após a ocorrência de um evento adverso grave*, a Anvisa determinou, no dia 09/11/2020 a interrupção do estudo clínico da vacina CoronaVac. O evento ocorrido no dia 29/10 foi comunicado à Agência, que decidiu interromper o estudo. Porém, após análise dos fatos, no dia 11/11/2020, a Anvisa autorizou a retomada do estudo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação de uma vacina eficaz e segura requerer um processo técnico e burocrático. Estamos em meio a uma pandemia e reféns do tempo necessário para a realização de um bom estudo. Quem sabe ainda no início do ano que vem teremos o início das campanhas de vacinação contra o coronavírus no Brasil…

O que nos resta é esperar e respeitar as medidas de distanciamento social. Fique em casa.



Referências.

  1. FOLEGATTI, Pedro M. et al. Safety and immunogenicity of the ChAdOx1 nCoV-19 vaccine against SARS-CoV-2: a preliminary report of a phase 1/2, single-blind, randomised controlled trial. The Lancet, 2020.

  2. JACKSON, Lisa A. et al. An mRNA vaccine against SARS-CoV-2—preliminary report. New England Journal of Medicine, 2020.

  3. WHO (org.). DRAFT landscape of COVID-19 candidate vaccines. 2020. R&D Blue Print. Disponível em: <https://www.who.int>Acesso em: 15 nov. 2020.



Thais Gontijo Goulart Leite.

Acadêmica do 7º período de Medicina do Centro Universitário de Belo Horizonte.

 
 
 

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