top of page

O CONCEITO DE “VACINAS” E VACINAS APLICADAS CONTRA A COVID-19 NO BRASIL

  • Foto do escritor: simposiosaiba
    simposiosaiba
  • 23 de set. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 8 de mar. de 2022

Atualmente existem milhares de microrganismos patogênicos, que causam doenças específicas a partir de suas subpartes, ou seja, a partir do material genético que os constitui. Eles variam desde pequenos vírus, bactérias, fungos a até mesmo parasitas. Cada agente carrega em si, um material constituinte, capaz de ocasionar doença no hospedeiro o qual ocupa. No entanto, ao invadi-lo, o corpo do hospedeiro é capaz de produzir anticorpos específicos contra tais patógenos, especificamente contra antígenos presentes em sua composição, denominados epítopos, de tal maneira que os anticorpos são muito específicos para cada doença. Após o final da doença, o corpo mantém imunoglobulinas, ou seja, anticorpos IgG de memória, que são capazes de reconhecer o mesmo agente em uma possível nova infecção, obtendo uma resposta mais rápida contra o antígeno, se comparada à primo-infecção.

A vacinação, por sua vez, faz com que pequenas partes imunógenas dos patógenos sejam introduzidas no organismo, a fim de que ele possa produzir anticorpos contra aquele material, de maneira que ao entrar em contato com o microrganismo como um todo, o corpo seja capaz de responder rapidamente, evitando a infecção. A vacinação gera uma imunização ativa, com a montagem de toda uma resposta contra a infecção e com a possibilidade da ativação das imunidades inata e adaptativa. Tal tipo de imunização gera tanto especificidade, quanto memória.



Os mecanismos da imunidade inata funcionam como linha de frente para a infecção, sinalizando que algo está ocorrendo de maneira incorreta.

Já os mecanismos da imunidade adaptativa, aqui contendo a vacinação, são responsáveis por uma imunidade específica e que gera memória. Essas, por sua vez, aumentam em magnitude e capacidade defensiva em cada exposição subsequente do microrganismo particular. Por isso o seu nome é imunidade adaptativa, uma vez que se adapta à cada tipo de infecção.


Na figura à direita, percebe-se as principais características das respostas imunes adaptativas:

Especificidade -> garante que a resposta imune seja apenas contra um epítopo específico

Memória -> produção de células B e anticorpos IgG contra o epítopo com o qual o organismo já teve contato, gerando resposta mais rápida e de maior magnitude no segundo contato

Dessa forma, após relembrar um pouco a respeito da imunização ativa gerada pela vacinação, iremos entrar em mais detalhes a respeito da vacinação contra a COVID-19 no Brasil.

É importante lembrar que o princípio fundamental de uma vacina consiste em administrar de forma inativa ou atenuada um agente infeccioso ou um epítopo imunogênico, que não cause doença, mas provoque uma resposta imune para conferir proteção, graças à capacidade de memória. Sabe-se que existem inúmeras formas de vacinas para que isso ocorra, sejam elas por microrganismos atenuados, inativados, por antígenos purificados, antígenos sintéticos, envolvendo vírus recombinantes, vacinas de DNA, entre outras. Neste texto iremos abordar apenas os subtipos condizentes com as vacinas contra a COVID-19 aplicadas no Brasil.

Para a criação de uma vacina, alguns princípios gerais devem ser respeitados, passando por três estágios clínicos de pesquisa:

1. Ensaios de fase I – avaliação de segurança, imunogenicidade e, ocasionalmente, avaliação de dosagem

2. Ensaios de fase II – perfil de segurança e imunogenicidade em um número maior de pacientes

3. Ensaios de fase III – determinação da eficácia em prevenir determinados desfechos (habitualmente uma doença confirmada)

No caso da criação das vacinas contra a COVID-19, alguns ensaios foram agrupados em um mesmo estudo, uma vez que a necessidade de um mecanismo preventivo era urgente, frente à pandemia e ao número de mortes. No entanto, os critérios de segurança permaneceram rigorosos, comitês de monitoramento e segurança de dados compostos por especialistas em vacinas, sem conflitos de interesse, avaliam os eventos adversos de cada fase e aprovam o avanço para a etapa seguinte. Além disso tudo, o estudo das vacinas contra a SARS-CoV-1 e contra a MERS-CoV pavimentaram o caminho para o desenvolvimento tão rápido de vacinas contra o SARS-CoV-2.


CORONAVAC / SINOVAC

É uma vacina de vírus inativado, desenvolvida pela China e possui hidróxido de alumínio como adjuvante. Nesses tipos de vacina existem partículas virais inteiras e mortas ou inativadas. Suas vantagens são: segurança de uso, especialmente em imunossuprimidos. No entanto, possui como desvantagem uma resposta imune mais reduzida, sendo necessárias múltiplas doses e reforços.

É aplicada intramuscular, em duas doses, com um intervalo de 21 a 28 dias entre elas. Sua eficácia está estimada em 83,5% a partir do 14º dia da segunda dose na Turquia, no entanto, existem relatos de menor eficácia em outros países.


OXFORD / ASTRAZENECA (ChAdOx1 nCoV 19 / AZD1222)

É uma vacina de vetor adenoviral não replicante de chimpanzé que expressa a proteína de superfície spike, presente no SARS-CoV-2. Essa proteína é responsável por ligar-se à enzima conversora de angiotensina 2, permitindo a entrada do vírus nas células, sendo a raiz de muitas das manifestações da COVID-19. As vacinas de vetor adenoviral são fabricadas a partir de partículas virais pouco virulentas, inteiras e que carreiam genes do vírus de interesse, possuem alta tecnologia de produção e necessidade de múltiplas doses e reforços.

É administrada em duas doses intramusculares, de 0,5mL, com um intervalo de 4 a 12 semanas. A OMS tem recomendado a aplicação entre 8 a 12 semanas para que a cobertura populacional com a primeira dose seja maior.

Ela possui cerca de 70,4% de eficácia em prevenir infecção sintomática pelo SARS-CoV-2 a partir do 14º dia da segunda dose.

Eventos adversos comuns: reações locais no local da aplicação; sintomas sistêmicos (calafrios, febre, fadiga, mialgia, cefaleia). Eventos adversos raros: complicações trombóticas muito raras, associadas à trombocitopenia (trombose de seio venoso cerebral – 169/34 milhões; trombose de veia esplâncnica – 54/34 milhões); síndrome de Guillain-Barre (227/51 milhões)


PFIZER / BIONTECH (BNT162b2)

É uma vacina de RNA mensageiro viral, sendo uma das primeiras vacinas contra o SARS-CoV-2. Ela representa um mecanismo muito novo, no qual uma vez administrado, o RNA viral é traduzido na proteína alvo, que se destina a induzir resposta imune. O RNAm permanece no citoplasma da célula e não entra no núcleo, de maneira que elas não reagem nem se integram ao DNA do receptor. Sua produção ocorre totalmente in vitro, de tal forma que é facilitada, no entanto uma tecnologia de alta produção é exigida e necessita de temperaturas muito baixas, dificultando seu armazenamento.

A vacina da Pfizer / Biontech está indicada para pacientes acima de 12 anos de idade. É administrada em duas doses intramusculares, de 0,3mL, com um intervalo de 21 dias. No Brasil este intervalo está maior, de 12 semanas, isso ocorreu por um pedido da OMS, para que a cobertura vacinal pudesse ser ampliada para países que não possuíssem uma cobertura vacinal elevada e que estivessem em níveis alarmantes da pandemia.

Ela possui 95% de eficácia em prevenir infecção sintomática pelo SARS-CoV-2 a partir do sétimo dia da segunda dose.

Eventos adversos comuns: reações locais no local da aplicação; sintomas sistêmicos (calafrios, febre, fadiga, mialgia, cefaleia). Eventos adversos raros: anafilaxia (aproximadamente 5/milhão) e miocardite / pericardite (aproximadamente 16/milhão entre 16-39 anos de idade)


JANSSEN / vacina Johnson e Johnson (Ad26.COV2.S)

É uma vacina de vetor adenoviral, incompetente para replicação, que expressa a proteína spike estabilizada. Essa proteína tem sido a base para grande parte das vacinas contra a COVID-19, sendo um dos principais epítopos imunogênicos de escolha, como já visto na vacina da Oxford/Astrazeneca.

Está indicada para indivíduos maiores de 18 anos de idade. É aplicada em dose única, de 0,5mL intramuscular. Possui 66% de eficácia contra casos moderados a graves de COVID-19, a partir do 14º dia de vacinação.

Eventos adversos comuns: reações locais no local da aplicação; sintomas sistêmicos (febre, calafrios, fadiga, mialgia, cefaleia). Eventos adversos raros: complicações trombóticas associadas à trombocitopenia (mulheres de 30-39 anos – 12,4/milhão; mulheres de 40-49 anos – 9,4/milhão; mulheres em outras faixas etárias e homens – 1,3 a 4,7/milhão); síndrome de Guillain-Barre (aproximadamente 8/milhão). É importante ressaltar que o risco destes eventos é mínimo e os benefícios da vacinação os superam.


É importante ressaltar que a escolha entre as vacinas se baseia na disponibilidade das mesmas, uma vez que estudos comparando eficácias diretamente entre si ainda não foram realizados. No entanto, é importante ressaltar que todas elas são altamente eficazes e reduzem evidentemente o risco de COVID-19, especialmente casos graves e críticos. Dessa forma, a vacinação deve ser sempre incentivada, independente da vacina disponível.


REFERÊNCIAS


ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. xii, 536 p. ISBN 978-85-352-4744-2.


World Health Organization. Director-General's remarks at the media briefing on 2019-nCoV on 11 February 2020. http://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-remarks-at-the-media-briefing-on-2019-ncov-on-11-february-2020 (Accessed on September 09, 2021).


World Health Organization. Draft landscape of COVID-19 candidate vaccines. https://www.who.int/publications/m/item/draft-landscape-of-covid-19-candidate-vaccines (Accessed on September 09, 2021).


World Health Organzation. Como funcionam as vacinas. https://www.who.int/pt/news-room/feature-stories/detail/how-do-vaccines-work. (Accessed on Septembr 09, 2021).


College of Physicians of Philadelphia. The History of Vaccines: Vaccine Development, Testing, and Regulation. https://www.historyofvaccines.org/content/articles/vaccine-development-testing-and-regulation (Accessed on September 09, 2021).


Edwards, K. M. & Orenstein, W. A. (2021). COVID-19: Vaccines to prevent SARS-CoV-2 infection. In M. S. Hirsch, A. Bloom (Ed.), UpToDate. https://www.uptodate.com/contents/covid-19-vaccines-to-prevent-sars-cov-2-infection/print?search=vaccine%20coronavac%20Coronavirus%20infection&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1#H2650237379. (Accessed on September 09, 2021).




Comments


Entre em contato conosco

© 2023 por Quebra-cabeças. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page