Vacina da Dengue
- SAIBA+
- 2 de jan. de 2020
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Atualizado: 6 de jan. de 2020
PANORAMA DA DENGUE
A infecção pelo vírus da dengue é um dos principais problemas de saúde pública mundial, sendo considerada a arbovirose mais prevalente no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima marcas anuais de 390 milhões de infecções sendo que dessas, 250 mil se manifestam pela forma grave da dengue (dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue) e provocam a morte de cerca de vinte mil pessoas. Só no Brasil, em 2019, foram registrados 1.281.759 casos prováveis de dengue no país. A emergência da dengue enquanto uma pandemia evidencia a necessidade de se desenvolver uma vacina segura e eficaz, capaz de prevenir a infecção pelos quatro sorotipos do vírus.
A INFECÇÃO VIRAL
A Dengue tem um amplo espectro de apresentações clínicas, muitas vezes com evoluções clínicas imprevisíveis. Enquanto a maioria dos pacientes se recupera após um curso-clínico autolimitado brando, uma pequena parcela progride para a forma grave da dengue, caracterizada principalmente por extravasamento plasmático, na presença ou não de hemorragias. Mas, por que embora todos os DENVs (DENV-1 a DENV-4) possam causar o espectro completo da doença estudos epidemiológicos determinam como maior fator de risco para doença mais grave uma infecção secundária heterotípica por DENVs? Existem duas teorias para explicar este fato: 1. Teoria aumento da replicação dependente de anticorpos: anticorpos preexistentes reconhecem as proteínas E presentes nas partículas virais heterólogas, formando um complexo vírus-anticorpo capaz de se ligarem aos receptores FcγR na superfície celular, facilitando a endocitose do DENV. 2. Teoria do "pecado antígênico original": linfócitos T de memória específicas para o sorotipo da infecção primária seriam ativados teria ativação preferencial, em detrimento de uma célula T naive, resultando em uma resposta imune não eficiente e com perfil alterado.
PRINCIPAIS TIPOS DE VACINAS
Existem vários tipos de vacina da dengue, sendo elas a vacina de vírus vivo atenuado, de vírus atenuado quimérico, de vírus inativado, de antígenos subunitários e por fim às vacinas de DNA. Mas, apesar de existirem divergências sobre qual o modelo ideal a ser adotado, parece haver um consenso que independente do tipo de vacina, uma vacinação ideal contra a dengue preconize uma vacina tetravalente de dose única, o que se justifica pela exigência de uma resposta imune protetora eficaz e segura contra os quatro sorotipos, sem o risco de induzir manifestações graves. Na última década, várias vacinas surgem como candidatas promissoras contra a dengue estão em fase 3 de testes clínicos. A primeira vacina a ganhar destaque é a vacina CDY, cujo nome comercial é a denguevaxia. Trata-se de uma vacina desenvolvida pelo laboratório francês SanofiPasteur usando a técnica de vírus atenuado quimérico. Esta é uma vacina em fase mais avançada de estudo, sendo inclusive a única já aprovada pela ANVISA (2015). Os resultados preliminares (fase III) desta vacina demonstraram que, em plano de 3 dosagem com um intervalo de 6 meses entre elas, tem-se uma eficácia de 65,6%. Contudo, em 2017, o laboratório Sanofi realizou uma avaliação complementar, onde ficou evidenciado que houve maior risco de hospitalização por dengue em indivíduos previamente soronegativos. Assim, a bula dessa medicação foi revista e a indicação restrita para indivíduos que tiveram que já tiveram a prima infecção pelo vírus. Outra vacina que ganhou destaque é a TV003. Trata-se de uma vacina desenvolvida pelo laboratório brasileiro Butantan usando, também, a técnica de vírus atenuado quimérico. Os resultados preliminares (Fase I) da vacina demonstraram que, em plano de uma dosagem, tem-se uma eficácia de 92%. O estudo dessa vacina está em fase III e, como resultado se espera uma eficácia de pelo menos 80% tanto para indivíduos soropositivos quanto soronegativos. A sua comercialização é esperada nos últimos anos, sendo em 2025 está programado o término das pesquisas.
Referências
1. AZEVEDO, Adriana S. et al. The Synergistic Effect of Combined Immunization with a DNA Vaccine and Chimeric Yellow Fever/Dengue Virus Leads to Strong Protection against Dengue. Plos One, [s.l.], v. 8, n. 3, p.53-57, 5 mar. 2013. Public Library of Science (PLoS). http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0058357.
2. BHATT, Samir et al. The global distribution and burden of dengue. Nature, [s.l.], v. 496, n. 7446, p.504-507, abr. 2013. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/nature12060.
3. FEINBERG, Mark B.; AHMED, Rafi. Advancing dengue vaccine development. Science, [s.l.], v. 358, n. 6365, p.865-866, 16 nov. 2017. American Association for the Advancement of Science (AAAS). http://dx.doi.org/10.1126/science.aaq0215.
4. KIRKPATRICK, Beth D. et al. The live attenuated dengue vaccine TV003 elicits complete protection against dengue in a human challenge model. Science translational medicine, v. 8, n. 330, p. 330ra36-330ra36, 2016.
5. TAVARES, Fabíola. Testes da vacina brasileira contra a dengue serão conduzidos pela Fiocruz PE. 2016.

Thais Gontijo Goulart Leite.
Acadêmica do 6º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
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