Transplante de Fezes
- SAIBA+
- 4 de mai. de 2020
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Atualizado: 29 de mai. de 2020
O QUE É?
Você já ouviu falar em Transplante de Fezes? Pode parecer estranho à primeira vista, mas essa técnica tem sido utilizada com muito sucesso no tratamento de pessoas com infecções intestinais severas. Na verdade, o transplante fecal tem como objetivo restaurar a microbiota intestinal de pacientes que, por exemplo, passaram por intensos tratamentos com antibióticos contra cepas bacterianas muito resistentes, que acabaram exterminando parte da microbiota intestinal. O consenso médico é que esse procedimento é comprovadamente indicado contra infecções recorrentes pela bactéria Clostridium difficile. Novas pesquisas, sugerem também o benefício da prática em quadros de obesidade, diabetes, esclerose múltipla, autismo, doença inflamatória intestinal, síndromes metabólicas e Doença de Parkinson, Doença de Crohn, todavia, ainda não existem evidências suficientes que comprovem essa teoria.
PRINCÍPIO GERAL
O lúmen intestinal, mesmo em indivíduos hígidos, é povoado por vários microorganismos que estabelecem uma relação mutualística com o hospedeiro, desde que se mantenham no tubo digestivo, já que se atravessarem a parede do intestino caracterizarão um quadro de infecção. Esses microorganismos compõem a microbiota intestinal, a qual, além de estar relacionada com a manutenção e regulação da imunidade intestinal, é muito importante para o desenvolvimento e consolidação efetiva dos tecidos linfoides. Nesse sentido, caso haja comprometimento dessa população microbiana, a imunidade intestinal do indivíduo fica prejudicada.
HISTÓRICO
O Transplante de Microbiota Fecal (TMF) é uma prática chinesa, que teve seu primeiro registro no quarto século, quando o médico Ge Hong usou a técnica para cuidar diarreias intensas. Nessa época, a chamada “sopa amarela” era administrada por via oral. Hoje, todavia, não há um consenso acerca dos métodos que devem ser utilizados na preparação e aplicação do material. Geralmente, o conteúdo colhido de um doador saudável – que é previamente selecionado e passa por várias análises laboratoriais que visam proteger o receptor de possíveis contaminações – é diluído, filtrado e processado até a forma adequada para cada tipo de administração. Este preparado pode ser inserido diretamente no trato gastrointestinal (superior ou inferior); ou transformado em cápsulas de gelatina a serem consumidas. Há alguns estudos ainda que relatem o congelamento da microbiota fecal para utilização posterior. Como o paciente precisa estar sedado nos casos de infusão do conteúdo fecal líquido no trato gatrointestinal, o desconforto físico e moral do procedimento é reduzido.
PERSPECTIVAS
Embora seja muito antigo, o uso científico do TMF é muito recente, sendo que o primeiro relato metodológico desse procedimento é de 1958, e os estudos e aplicações mais amplas desse tratamento na prática clínica têm sido aprimorados apenas nos últimos dez anos. No Brasil, o primeiro transplante de fezes ocorreu no final de 2014 no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para tratar um paciente com colite. Em 2017, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais criou o primeiro Centro de Transplante de microbiota fecal do país, que alimenta um banco de fezes por meio de quatro doadores. O procedimento pode ser realizado pelo SUS ou por convênios, porém, o preço da técnica ainda não é tabelado.
Referências.
1. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
2. DESROSIERS, Martin; VALERA, Fabiana Cardoso Pereira. Admirável Mundo Novo (Microbiano): implicações para os distúrbios nasais e sinusais. Braz. j. otorhinolaryngol., São Paulo , v. 85, n. 6, p. 675-677, dez. 2019 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942019000600675&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 27 abr. 2020. Epub 13-Dez-2019. https://doi.org/10.1016/j.bjorl.2019.09.001.
3. GONÇALVES, Mara Andreia Pereira. Microbiota: implicações na imunidade e no metabolismo. Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2014.
4. MESSIAS, Bruno Amantini et al . Transplante de microbiota fecal no tratamento da infecção por Clostridium difficile: estado da arte e revisão de literatura. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro , v. 45, n. 2, e1609, 2018. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912018000200300&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Apr. 2020. Epub May 24, 2018. https://doi.org/10.1590/0100-6991e-20181609.
5. THOMAS, Liji. História da transplantação fecal. News-Medical. Agosto, 2018. Disponível em https://www.news-medical.net/health/History-of-Fecal-Transplant.aspx.

Bruna Cristina Silva Martins
Acadêmica do 3º período de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
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