Reflexos da prática de exercícios físicos no sistema imunológico
- SAIBA+
- 6 de abr. de 2020
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Atualizado: 29 de mai. de 2020
VISÃO GERAL
No dia 06 de abril se comemora o dia internacional da atividade física, prática que possui uma ampla associação com o estado de saúde das pessoas, influenciando no comportamento de diversos sistemas, como o sistema imunológico. Em 1902, um estudo pioneiro desenvolvido por Larrabee verificou um aumento no número de leucócitos, principalmente, neutrófilos, em corredores, após uma maratona, que não apresentavam quadro de infecção bacteriana. Em meados dos anos 70 essa temática impulsionou muitas pesquisas que tinham por finalidade, por exemplo, o estudo das infecções de via aérea superior em atletas submetidos a grandes esforços, a compreensão do exercício como fator estressante ao organismo, bem como o entendimento dos efeitos que os a prática frequente de atividades físicas poderia exercer diante de outras situações de estresse. Nessa perspectiva, concluiu-se que as alterações no sistema imunológico decorrentes da prática de exercícios físicos ocorrem a partir de fatores hormonais, metabólicos e mecânicos. Além disso, percebeu-se que as atividades físicas moderadas e praticadas regularmente promovem uma melhora no potencial de resposta do sistema imune, ao passo que os exercícios de alta intensidade, praticados sob condições estressantes, desencadeiam um quadro temporário de imunodepressão.
OS EXERCÍCIOS DE MODERADA INTENSIDADE
Os neutrófilos são fagócitos integrantes da resposta imune inata e, geralmente, são as primeiras células de defesa a serem recrutadas para o sítio da infecção. Os níveis plasmáticos desse leucócito, bem como a sua capacidade funcional são afetados tanto pela prática quanto pela intensidade dos exercícios físicos. Nesse contexto, as atividades físicas regulares e moderadas promovem um aumento no número de neutrófilos circulantes na corrente sanguínea, o que, provavelmente, ocorre em decorrência da liberação de hormônios, como o cortisol, que, por sua vez, atua inibindo a apoptose dessas células de defesa. Quanto à resposta funcional dos neutrófilos, os exercícios moderados promovem um aumento nas suas funções quimiotática, fagocítica e microbicida. Os macrófagos constituem um grupo importante de células do sistema imunológico, originado, principalmente, a partir da infiltração de monócitos, circulantes no sangue, nos tecidos. Essas células possuem diversas funções, como a realização de fagocitose e a potencialização da ação dos linfócitos TCD4 no combate a antígenos específicos, portanto se relaciona tanto com a resposta imune inata quanto com a resposta imune adaptativa. Um estudo realizado em camundongos observou um aumento na produção de IFN-γ e TNF-α pelos macrófagos quando esses animais foram submetidos a treinamento aeróbio de intensidade moderada realizado em esteira rolante. As citocinas mencionadas estimulam, principalmente, a resposta dos linfócitos TCD4 contra microrganismos intracelulares, como os vírus, e micobactérias, como a Mycobacterium leprae e a Mycobacterium tuberculosis, causadoras da Hanseníase e da Tuberculose, respectivamente. Ademais, esse experimento observou também um aumento na função microbicida e citotóxica dos macrófagos nos camundongos em decorrência do aumento da disponibilidade de óxido nítrico (NO), o que pode ser justificado pela diminuição de receptores β2-adrenérgicos nesses leucócitos a partir do treinamento realizado. Vale ressaltar que esses receptores permitem a regulação do sistema imunológico através do sistema nervoso simpático, uma vez que estão envolvidos com a inibição da enzima NO sintase induzida.
As células dendríticas são capazes de internalizar antígenos e, posteriormente, expressá-los por meio de uma molécula denominada MHC de classe II, responsável por apresentar o antígeno ao linfócito T, ativando-o. Um estudo realizado em roedores submetidos a cinco semanas de treinamento na esteira com inclinação e velocidade aumentados gradativamente, observou, ao término das seções, um aumento no número de células dendríticas, bem como na expressão de MHC de classe II, o que sugere uma melhor capacidade do sistema imune em estimular a resposta dos linfócitos. Além disso, percebeu-se também uma maior produção de IL-12, citocina responsável, por exemplo, pela promoção de uma melhor resposta dos linfócitos a microrganismos intracelulares e micobactérias.
OS EXERCÍCIOS DE ALTA INTENSIDADE
Diferentemente do que foi observado nos parágrafos acima, os exercícios de alta intensidade desencadeiam, muitas vezes, um comprometimento na atuação do sistema imunológico. Nesse contexto, as atividades físicas intensas se encontram relacionadas à diminuição funcional da maioria das atividades dos neutrófilos. Quanto aos macrófagos clássicos, isto é, os derivados de monócitos, ocorre uma diminuição na expressão das moléculas de MHC de classe II. Já os macrófagos alveolares, que são residentes teciduais e foram originados a partir de tecidos embrionários, apesentam uma queda na função antiviral. As células NK são importantes constituintes da resposta imune inata e atuam reconhecendo e promovendo a lise de células infectadas por vírus, bactérias e protozoários, bem como células tumorais. Ademais, as células NK recrutam neutrófilos e macrófagos, além de ativarem células dendríticas, linfócitos T e linfócitos B. Estudos sugerem que as células NK apresentam uma ligação entre a prática regular de exercícios físicos e o estado geral de saúde, uma vez que essas células se deslocam com facilidade do sangue periférico para os tecidos em decorrência das alterações mecânicas no fluxo sanguíneo durante os exercícios e da diminuição na expressão de moléculas de adesão, induzidas pelas catecolaminas liberadas em resposta às atividades físicas. Entretanto, durante exercícios muito prolongados, a concentração de células NK circulantes pode se tornar igual ou até menor à apresentada antes do início da atividade física, o que poderia ser justificado pela migração dessas células para os sítios de injúria muscular.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, é possível compreender alguns dos mecanismos que justificam a associação existente entre a prática de exercícios físicos e o comportamento do sistema imunológico. Novamente é válido reiterar que os exercícios de moderada intensidade favorecem a atuação do sistema imune, ao passo que os exercícios de alta intensidade desencadeiam, temporariamente, a depressão do sistema imunológico. Finalmente, torna-se proveitoso considerar que os exercícios agudos geram respostas também agudas e de funcionalidade em concordância com o que foi mencionado no texto. Já as atividades crônicas, principalmente, quando possuem um aumento gradativo de intensidade, tendem a promoverem adaptações no organismo e desencadearem respostas benéficas a vários sistemas, incluindo o sistema imunológico.
Referências.
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Guilherme Augusto Turbino Ribeiro.
Acadêmico do 4º período de medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
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