Parto e microbiota neonatal
- SAIBA+
- 2 de abr. de 2020
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VISÃO GERAL
A microbiota humana é uma ferramenta essencial ligada a saúde e as doenças humanas, sendo formada pela colonização coletiva de microrganismos em qualquer habitat do corpo, como o canal vaginal, a pele, o trato gastrointestinal e trato respiratório. Seu desenvolvimento sofre influências de diversos fatores, como doenças durante a gravidez, tipo de parto, nutrição materna, tipo de alimentação neonatal, uso de antibióticos, exposição ao ambiente e fatores genéticos
A microbiota do neonato desempenha um papel essencial no desenvolvimento do sistema imunológico saudável e a colonização deficiente está associada a efeitos negativos relacionados ao metabolismo e o desenvolvimento imunitário. Tendo em vista que os microrganismos da microbiota influenciam no desenvolvimento de leucócitos, principalmente os neutrófilos.
É importante ressaltar que no Brasil realizam-se muitos partos por via cesariana, como exemplo, no ano de 2017 foram realizadas 2,7 milhões de partos no sistema público de saúde, sendo 58,1% partos normais e 41,9% cesarianas. Nesse sentido, a discussão sobre o tema é muito relevante tendo em vista que o tipo de parto é um dos fatores determinantes para a constituição da microbiota do recém-nascido e, consequentemente, possui influência direta na sua imunidade.
PARTO NORMAL x PARTO POR CESÁRIA
O trabalho de parto é importante para a ativação do sistema imune através das contrações uterinas e hipóxia durante a passagem pelo canal do parto. Sendo assim, bebês nascidos pela via vaginal possuem maior quantidade de leucócitos. Além disso, esses leucócitos funcionam secretando mais citocinas do que os leucócitos de neonatos nascidos por cesariana. Ademais, a quantidade de proteína C reativa (PCR) é maior em nascidos por parto vaginal.
Outro fator relevante é que o contato do bebê com a microbiota materna da mucosa vaginal é um fator determinante para a colonização da microbiota do trato gastrointestinal (TGI) do RN, a qual permanecerá diferente dos neonatos nascidos por parto cesáreo até os 7 anos. Nessa perspectiva, na cesárea o desenvolvimento da microbiota do TGI ocorre de forma tardia, tendo início no período pós-parto dependendo do tipo e duração da amamentação, o que pode alterar as respostas imunológicas, o metabolismo, a permeabilidade intestinal e a motilidade digestiva provocando deficiência das funções imunes e metabólicas.
Além disso, um maior número de células imunológicas e de biomarcadores são encontrados durante o parto vaginal para aumentar os mecanismos de defesa do sistema imunológico contra infecções imediatas no ambiente externo. Dessa maneira, o parto normal promove a diferenciação de células T de memória e induz resposta imunológica no útero, aumentando a produção de citocinas inflamatórias como (IL) -1β, IL-6, IL-8 e fator de necrose tumoral α que tem como função o aumento da secreção de prostaglandinas. As citocinas também são importantes na ativação do sistema imune do feto, aumentando o número de neutrófilos, monócitos e células natural killer.
Somado a isso, em nascidos por parto normal, existem vias funcionais que estão super-expressas, incluindo a biossíntese de lipopolissacarídeo (LPS) que influenciam diretamente na estimulação do sistema imune.
Neonatos nascidos por cesariana apresentam níveis baixos de colonização, quando comparadas aos que nasceram por via vaginal. Ainda assim, bactérias importantes na constituição da microbiota, como Lactobacillus e Bifidobacteria, são influenciadas negativamente na cesariana.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que existe uma ampla relação entre o tipo de parto e o desenvolvimento da microbiota intestinal e do sistema imune do RN. Assim, os nascidos por parto normal, através do contato com microrganismos presentes no períneo materno, possuem melhores respostas ao longo de seu desenvolvimento. Logo, o parto cesáreo pode instigar o aspecto anormal da composição do microbiota intestinal do RN, podendo, também, explicar a incidência crescente de vários problemas de saúde em crianças, incluindo asma, alergias, doença celíaca, diabetes, obesidade e doença inflamatória gastrointestinal. Assim, embora a cesárea seja necessária em emergências obrigatórias, existe um número realizados acima do indicado, podendo demostrar certa banalização da prática.
Referências.
1. DE OLIVEIRA SILVA, Débora Borges, et al. Desenvolvimento da microbiota do recém-nascido e sua relação com o tipo de parto.
2. FRANCINO, M. Pilar. Birth Mode-Related Differences in Gut Microbiota Colonization and Immune System Development. Annals of Nutrition and Metabolism, v. 73, n. 3, p. 12-16, 2018
3. LIMA, Francisco Jamilton Bezerra; DE SOUSA, Naiane Maria; PINTO, Ana Carolina Matias Dinelly. RELAÇÃO DO TIPO DE PARTO NA CONSTITUIÇÃO DA MICROBIOTA INFANTIL. Encontro de Extensão, Docência e Iniciação Científica (EEDIC), 2019, 5.1.

Laura C. Burni Tôrres.
Acadêmica do 6º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
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