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Doença Celíaca

  • Foto do escritor: SAIBA+
    SAIBA+
  • 19 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

INTRODUÇÃO

A doença celíaca (DC), uma enteropatia crônica e autoimune, é desencadeada pela ingestão de glúten (principal composto proteico de alimentos como trigo, centeio e cevada) e, segundo estudos epidemiológicos, acomete de 0,5 a 1% da população da Europa, América do Sul, Austrália e Estados Unidos. É importante ressaltar a diferença entre DC e sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) e Alergia Alimentar Ao Trigo (AAT), dois possíveis diagnósticos diferenciais. A SGNC ocorre quando o paciente possui sintomas semelhantes aos da DC, porém a presença de DC ou alergia ao trigo já foi descartada por meio dos devidos exames. Já a AAT, condição de reação imunológica adversa e exacerbada às proteínas do trigo, é mediada por IgE e possui manifestação clínica variada, desde sinais e sintomas dermatológicos, como o prurido e eritema, respiratórios, como edema de orofaringe e gastrointestinais, como diarreia e cólica, podendo gerar até uma reação anafilática e consequências mais graves ao indivíduo. Dessa forma, o profissional da saúde deve se atentar à sintomatologia apresentada pelo paciente e requisitar exames levando em consideração as três patologias descritas.


FISIOPATOLOGIA

Em indivíduos geneticamente predispostos, o glúten, proveniente da alimentação, desencadeia uma resposta inflamatória na mucosa intestinal. A enzima transglutaminase intestinal, localizada em tal mucosa, catalisa a reação de exclusão de radicais amina da glutamina, molécula presente na estrutura do glúten. Assim, há a formação de ácido glutâmico, que, por possuir afinidade com DQ2 e DQ8 (duas das proteínas que compõe o sistema de antígenos leucocitários humanos – HLA) das células apresentadoras de antígenos, gera um complexo molecular. Finalmente, esse complexo provoca alterações fenotípicas em células do sistema imune que, consequentemente, culminam em uma possível atrofia das vilosidades intestinais e na má absorção de nutrientes. A susceptibilidade para adquirir DC parece estar relacionada à expressão de DQ2 e DQ8.


MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As manifestações clínicas da DC variam de acordo com intensidade, extensão e localização da inflamação no intestino, além de fatores como sensibilidade individual ao glúten e quantidade de glúten na dieta.

O quadro clínico típico da patologia inclui diarreia, esteatorreia, distensão abdominal, perda de peso e deficiência de nutrientes e vitaminas. Nas manifestações atípicas que, em sua maioria, consistem em sintomas extraintestinais, se encontram dermatite herpetiforme, osteoporose, baixa estatura, infertilidade, doenças hepáticas, entre outros, e eles podem estar presentes ou não em conjunto à sintomatologia típica.

Ademais, estudos demonstraram que indivíduos portadores de Síndrome de Down, Williams, Turner, diabetes tipo 1, deficiência de IgA seletiva, tireoidite, hepatite autoimune e os familiares de pacientes com DC constituem um grupo com predisposição aumentada para DC. É indicada a triagem sorológica independente de um quadro assintomático.


DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da DC é realizado pela história clínica e pelos exames laboratoriais, sendo confirmado pela histologia da mucosa intestinal através de biópsia. Em relação aos testes sorológicos, os mais recomendados são:

  • Anticorpo antiendomísio (EmA);

  • Anticorpo antitransglutaminase tecidual (antitTG);

  • Anticorpo antigliadina deaminada (antiDPG).

Além disso, a determinação da presença de HLA classe II codificada por genes DQ2 ou DQ8 pode excluir a DC ou tornar o diagnóstico pouco provável, uma vez que 95% dos pacientes celíacos possuem tal fator genético.

Finalmente, a biópsia intestinal, considerada padrão ouro para o diagnóstico de DC, deve ser realizada nos seguintes casos:

  • Suspeita clínica e sorologia positiva;

  • Pacientes de risco com sorologia positiva identificados pela busca ativa;

  • Suspeita clínica forte mesmo com sorologia negativa.


TRATAMENTO

Atualmente, o único tratamento disponível é a dieta isenta de glúten que se mostra, na maioria dos casos, suficiente para atenuar os sintomas e evitar complicações relacionadas à DC. Dessa forma, é recomendada consulta com nutricionista para criação de um plano alimentar. Entretanto, é importante salientar que tal dieta não deve ser aderida por indivíduos sem qualquer condição prévia relacionada ao glúten, visto que, nesses casos, não ocorre uma redução de açúcares, gordura ou sódio e possível perda de peso – como muitos pensam. Assim, a retirada de diversos alimentos da dieta pode culminar em uma deficiência nutricional, gerando riscos desnecessários ao indivíduo.


Referências:

1. LIU, Shinfay Maximilian et al. Doença celíaca. Rev Méd Minas Gerais, v. 24, p. 38-45, 2014.

2. PAVLIV, D. The Gluten-Free Craze: Is It Just a Fad or Is It Necessary? National Center For Health Research. August 2012

3. PINTO, Aline Pereira Reis; DE MELLO, Elza Daniel. Alergia alimentar ao trigo. International Journal of Nutrology, v. 12, n. 01, p. 013-017, 2019.

4. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT): Doença Celíaca. Ministério da Saúde, 2015.

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Luiza de Barros Mendes Pires.

Acadêmica do 3º período de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

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