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TUBERCULOSE ASSOCIADA AO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

  • Foto do escritor: simposiosaiba
    simposiosaiba
  • 8 de mar. de 2022
  • 4 min de leitura

O LES é uma doença autoimune crônica que afeta múltiplos sistemas, podendo manifestar clinicamente de formas variadas. As infecções são a principal causa de morbidade e mortalidade em pacientes com essa doença. O risco de infecção entre pacientes com LES aumenta de 2 a 6 vezes para infecções gerais graves, tuberculose, pneumonia e herpes zoster em comparação com a população geral ou controles saudáveis e 11–23% das hospitalizações entre pacientes com LES são devido a infecções (PÊGO-REIGOSA, 2021). Além disso, aproximadamente metade dos pacientes lúpicos experimentam uma infecção grave durante o curso da doença e um terço das mortes relacionadas ao lúpus são atribuíveis a um organismo infeccioso. (WANG, 2015; GOLDBLATT, 2009).

Essa suscetibilidade é resultado em parte do tratamento imunossupressor e de aberrações no sistema imunológico associadas ao LES, predispondo os pacientes à infecção (PEREIRA, 2008). Isso ocorre porque a terapia com altas doses de glicocorticóides podem ocasionar efeitos inibidores do sistema imunológico e da resposta inflamatória, visto que há a inibição da migração de granulócitos e monócitos ao foco inflamatório e a inibição da síntese de quase todas as citocinas conhecidas (RÚA-FIGUEROA, 2017; CARVALHO, 2019).


O lúpus eritematoso sistêmico é a doença crônica inflamatória que acomete o tecido conjuntivo que mais se encontra relacionada a infecções causadas pelo Mycobacterium tuberculosis. As evidências que associam essas duas patologias são principalmente o uso de corticoides e imunossupressores, o déficit imunológico do próprio LES, as características epidemiológicas e sociais comuns a essas doenças e o papel das proteínas de choque térmico (HSP) e do mimetismo molecular nas comorbidades LES-TB (PEREIRA, 2018).


Pacientes lúpicos fazem o uso principalmente de medicamentos que agem na modulação do sistema imunológico, sendo esses, corticoides, antimaláricos e imunossupressores (COMISSÃO DE LÚPUS, 2011). Segundo Valente et.al (2001), o uso prolongado de doses moderadas a altas de corticoides podem aumentar o risco de infecções por organismos atípicos ou oportunistas em até 40 vezes, quando comparado a indivíduos que não fazem o uso desses fármacos.


Em doenças autoimunes é descrito a presença de autoanticorpos contra as proteínas de choque térmico que afetam as respostas anti-Hsp e fazem com que a mesma mude de um mecanismo de defesa para mecanismo de autodestruição. Além disso, o grau de similaridade ou homogenicidade entre as proteínas de choque térmico do Mycobacterium tuberculosis e as proteínas dos mamíferos corresponde a cerca de 50% e a reação cruzada entre essas proteínas caracteriza o mimetismo molecular (PEREIRA, 2018).



Portanto, há diversas evidências científicas que indicam a necessidade do fortalecimento das estratégias voltadas à prevenção de infecções em pacientes lúpicos, como vacinação adequada para as doenças preveníveis por esse meio, aconselhamento sobre medidas preventivas individuais e coletivas e redução da dosagem e duração dos glicocorticóides e imunossupressores, sempre que possível. Ademais, sempre deve ser inspecionado a possibilidade de processos infecciosos vigentes em pacientes imunocomprometidos, visto que as manifestações podem apresentar-se de caráter atípico, visando diagnóstico e tratamento precoce.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica; Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculose_brasil.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.

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  3. BRASIL. Sociedade Brasileira de Reumatologia. O Tratamento do Lúpus Eritematoso Sistêmico. 2011. Disponível em: https://www.reumatologia.org.br/orientacoes-ao-paciente/o-tratamento-do-lupus-eritematoso-sistemico/. Acesso em: 3 out. 2021.

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  7. PEREIRA, João Cláudio Barroso. Associação entre lúpus eritematoso sistémico e tuberculose – Revisão crítica. Revista Brasileira de Pneumologia, vol XIV no 6, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1697/169718435008.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.

  8. RÚA-FIGUEROA Í, López-Longo J, Galindo-Izquierdo M. et al. Incidência, fatores associados e impacto clínico de infecções graves em uma grande coorte multicêntrica de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico . Semin Arthritis Rheum 2017; 47 : 38–45.

  9. SILVA JUNIOR, Jarbas Barbosa da. Tuberculose: guia de vigilância epidemiológica. Jornal Brasileiro de Pneumologia, [S.L.], v. 30, n. 1, p. 57-86, jun. 2004. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1806-37132004000700003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpneu/a/krXjVLGxwdSJj4VmsFnGpqc/?lang=pt. Acesso em: 6 ago. 2021.

  10. VALENTE Orsine, et.al. Efeitos Metabólicos e Manuseio Clínico dos Corticosteróides. In: Atualização terapêutica: manual prático de diagnóstico e tratamento. Prado FC, et al. 20a ed. São Paulo: Artes Médicas, 2001: 1710-1712. Disponível em: http://www.centrocochranedobrasil.org.br/apl/artigos/artigo_465.pdf. Acesso em: 11 ago 2021

  11. WANG Z, Wang Y, Zhu R. et al. Causas de sobrevivência e morte em longo prazo do lúpus eritematoso sistêmico na China: uma revisão sistêmica de estudos observacionais . Medicine 2015; 94 : e794.

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