Citocinas e Transtorno do Espectro Autista (TEA)
- simposiosaiba
- 6 de dez. de 2021
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O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento caracterizado por comprometimento da interação social e da comunicação, repertório marcadamente restrito de atividades e interesses, além de comportamentos repetitivos e estereotipados1. Embora muitos esforços tenham se concentrado na identificação de genes associados ao autismo, pesquisas emergentes nas últimas duas décadas sugerem que a disfunção imunológica é um fator de risco que contribui para os déficits de neurodesenvolvimento observados nos transtornos do espectro autista (TEA)2. Nos tempos críticos de desenvolvimento infantil, a desregulação imunológica pode resultar na liberação de moléculas imunomoduladoras, como citocinas, levando a alterações neuronais no desenvolvimento e na função neural1. Citocinas são proteínas que gerenciam o tráfego de células imunes e determinam as respostas imunes apropriadas. Elas podem ser transportadas para e/ou sintetizadas no sistema nervoso central, estabelecendo assim comunicação entre as células imunológicas periféricas e os neurônios1.

Em estudos recentes, estão sendo reportados níveis aumentados de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina 1 beta (IL-1ß), interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), além de citocinas anti-inflamatórias, como o fator de inibição da migração de macrófagos (MIF), em pacientes com autismo. Níveis elevados dessas citocinas no plasma foram associados a habilidades de comunicação deficientes e deterioração no comportamento das interações sociais. Paralelamente a isso, observa-se a diminuição de citocinas anti-inflamatórias, como interleucina 10 (IL-10) e o fator de transformação do crescimento beta (TGF-ß), associados à perda de habilidades comportamentais sociais3.
Citocinas, como TNF-α, IL-1ß e a família TGF-ß, além de regularem o sistema imune, desempenham importante papel na regulação do sistema nervoso central, com efeitos diretos sobre a atividade neuronal. São moléculas que exercem efeitos na sobrevivência neuronal, proliferação e formação de novas sinapses; e processos de diferenciação e migração celular no sistema nervoso3. IL-6 foi proposta como uma citocina chave responsável por precipitar efeitos patológicos observados em distúrbios como o TEA. Ela pode facilmente atravessar a placenta, mas ainda não está claro se somente a IL-6 derivada da mãe é ou não suficiente para promover o desenvolvimento do TEA3. Outra citocina relacionada ao TEA é o MIF. Este é um regulador imunológico pró-inflamatório expresso constitutivamente no tecido cerebral, que tem uma influência importante nos sistemas neural e endócrino. Já foram associados pelo menos dois polimorfismos na região do promotor MIF em pacientes autistas3. Com esses achados, percebe-se que os profissionais de saúde devem compreender e avaliar o estado do sistema nervoso associado ao sistema imunológico para melhor avaliar o TEA. A partir de testes que permitam analisar citocinas, abrangentes informações podem ser obtidas para determinar anormalidades neurológicas e imunológicas, possibilitando uma seleção terapêutica mais direcionada para restabelecer a homeostase fisiológica e beneficiar a saúde e bem estar geral desses pacientes.
Referências
MARC, David; DA, Kelly Olson Ph. Neuroimmunology of Autism Spectrum Disorder. NeuroScience , p. 1-4, 2009. Disponível em: http://www.corepsych.com/wp-content/uploads/useful-references/neuroimmunology-o f-autism-white-paper.pdf. Acesso em 04 dez. 2021.
Meltzer, A., Van de Water, J. The Role of the Immune System in Autism Spectrum Disorder. Neuropsychopharmacol. 2017. Disponível em: https://www.nature.com/articles/npp2016158#citeas. Acesso em: 04 dez 2021. .
Rosales-Rivera LY, Velasco-Ramírez SF, Ramírez-Anguiano AC, et al. Neuroimmunology of autism. Arch Neurocien. 2015; 20 (1): 54-59. Disponível em: https://www.medigraphic.com/cgi-bin/new/resumen.cgi?IDARTICULO=69040. Acesso em 04 dez 2021.

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